No ano de 2020, uma pandemia mundial chegou ao Brasil. O vírus Covid-19 teve a maior taxa de propagação em um período curto desde a pandemia do H1N1, que assustou os brasileiros no ano de 2009. De origem chinesa, o Corona vírus tem um contágio fácil, através do toque, da saliva, ou apenas ao estar no mesmo lugar que a pessoa contaminada, e por isso teve uma taxa alta de infectados.
Em decorrência a esse surto, não só o Brasil, mas a maioria dos países precisou adotar a quarentena por tempo indeterminado, impondo o isolamento social, fato que mudou a rotina de todos, seja em seus empregos, suas casas ou em seus estudos. O home office virou o método principal de trabalho.
Um dos nichos que mais sofreu mudanças foi o da educação. Professores precisaram se equipar com câmeras, computadores e lousas para poderem dar aulas a seus alunos de suas casas. Assim como estudantes também precisaram providenciar recursos para continuarem aprendendo e estudando. O grupo sofreu drásticas mudanças, sendo muitas delas negativas. Por exemplo, não são todos os alunos que têm acesso a internet de qualidade, muito menos um computador para acompanhar remotamente as aulas, portanto, pautas como a desigualdade econômica e as múltiplas adaptações também foram levantadas.
Professores e alunos comentam sobre adaptação
Tendo em vista que as instituições educacionais em meados de novembro não retomaram as atividades 100%, foi entrevistado um grupo de alunos e outro de professores de diversas modalidades, como academia, faculdades e escolas (públicas e particulares), que apresentaram seus pontos de vista diante do ensino à distância que foi imposto de surpresa desde março de 2020, e todo o impacto que causou em suas vidas.
Alunos que estão terminando o ensino médio costumam ter muita pressão dos pais e da escola, por conta dos vestibulares e do cursinho. Além de lidar com isso, são obrigados a ficar confinados em casa, trazendo muitos sentimentos à tona, como depressão, ansiedade e outros problemas psicológicos, por estarem com uma restrição de relações sociais.
De acordo com os dados, 5 de 6 alunos terminando o ensino médio afirmam estar mais ansiosos, ou seja, 83,3% dos entrevistados. “Eu tive que me ouvir muito durante a quarentena, pois estava me cobrando da mesma forma que fazia quando tudo estava normal. Tive que lidar com a ansiedade ao sair de casa e ao ficar em casa também. Ao todo, não foi uma experiência boa, mas me ajudou muito no processo de autoconhecimento e amadurecimento”, relatou a aluna Mariana, de 17 anos, que estuda no colégio Santa Catarina.
A aluna Luiza, de 18 anos, que também estuda no colégio Santa Catarina, disse: “Foi uma das piores experiências que eu já tive. Apesar de ter me auxiliado no autoconhecimento, ficar distante dos familiares e amigos está sendo muito difícil. A maior dificuldade é a disciplina. As aulas on-line são muito diferentes, os momentos de descontração e as conversas no intervalo foram perdidas, então as aulas passaram a ser pesadas e cansativas. Após um tempo com o ensino a distância eu tenho a certeza de que não me adaptei e não aprendi nem metade do que teria aprendido, é muito cansativo. O rendimento nas aulas e nos vestibulares foi muito comprometido devido à aula on-line”.
Alunos de faculdades particulares também apresentaram dificuldades no seu aprendizado, disseram que a própria faculdade demorou para se adaptar a essa mudança, ou que até mesmo não tinham como se adaptar. Muitos alunos se queixaram da falta de atenção e foco. Cerca de 5 em 6 alunos de faculdades particulares (83,3%) afirmam que a maior dificuldade é a distração e falta de foco. O estudante Guilherme, de 20 anos, que estuda na Unip Norte afirmou: “Minha faculdade demorou muito para montar um sistema de ensino à distância e isso prejudicou meu semestre passado inteiro”. Além das instituições privadas, as federais não estavam preparadas, igualmente, para todo esse acontecimento. A aluna Sofia, de 19 anos, estudante da Unifesp, disse que a faculdade “parou por 5 meses, tentando decidir o que seria feito” e depois da decisão ainda precisaram mapear os alunos que tinham o acesso limitado à internet e a computadores.
Do outro lado da tela, existem os educadores. Diferente da nova geração, os problemas foram maiores, o que incluía o conhecimento em ferramentas da plataforma digital. O costume com a didática em sala de aula, presencialmente, exigiu de todos os professores entrevistados uma adaptação maior e a busca por aprender mexer com a tecnologia.
Dos 3 professores de escolas particulares, todos afirmaram que o ensino a distância é desafiador. “No início foi desesperador, pensei até em desistir, algo que nunca fiz. Achei que não seria capaz, mas depois de conversar com colegas de trabalho, vi que todos estavam passando pela mesma coisa. A educação não é estática, ela é transformadora. A todo instante você está em um processo de conhecimento”, disse Angélica, de 52 anos, professora do Ensino Fundamental II (faixa etária de 12 a 15 anos). Já para os dois professores da rede pública, o maior desafio é o acesso ao ensino remoto. Cassia, 37 anos, professora do Ensino Fundamental I (faixa etária de 7 a 11), afirma que “muitas famílias ainda não dispõem dessas tecnologias, não têm internet e não sabem fazer uso, como por exemplo, de aplicativos, formulários on-line etc. Infelizmente essa é a nossa grande dificuldade, onde tentamos fazer o resgate desse aluno às aulas e muitas vezes nos deparamos com diversas dificuldades familiares, onde o acesso à essa educação a distância fica em segundo plano.”
Os pontos positivos da pandemia
Em contrapartida, 100% (19 pessoas) dos entrevistados admitem que o isolamento mudou algo em suas vidas. 26,3% começou a cuidar melhor de si mesmo e 10,5% adquiriu o hábito de cozinhar mais. Outros dois pontos importantes são o aumento no cuidado com as tarefas de casa e a maior responsabilidade pessoal junto ao autoconhecimento.
Além dessas mudanças, mais de 50% dos estudantes conseguiram planejar uma rotina de estudos que não dependesse apenas das aulas ao vivo. A madrugada e a vídeo-aula fazem parte do novo roteiro de aprendizagem.
Para os professores, um ponto fundamental é acolher e trazer segurança para seus alunos, pelo fato deles estarem vulneráveis e quererem atenção. No ponto de vista da professora Angélica, os adolescentes sentem mais que as crianças, uma vez que os pais acompanham mais os filhos quando ainda são novos.
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